Roda de conversa promove debate sobre problemas mentais no encerramento do “Setembro Amarelo”

Roda de conversa promove debate sobre problemas mentais no encerramento do “Setembro Amarelo”
30 de setembro de 2019

Uma atividade diferente e fora do convencional da sala de aula. Na culminância do “Setembro Amarelo”, campanha de conscientização sobre a prevenção ao suicídio, estudantes de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) puderam expressar suas angústias, afetos, tensões, incertezas, ansiedade e demais sentimentos, na roda de conversa “Saúde Mental em Tempos de Suicídio”, organizada por um grupo de professores do Departamento de Psicologia e alunos do Centro Acadêmico do Curso.

A atividade reuniu cerca de 60 pessoas e foi realizada em uma das salas do Departamento. Estudantes e professores debateram sobre os problemas emocionais que afetam a humanidade e têm levado muitas pessoas a cometerem atos extremos contra sua própria vida. No início, a canção “What A Wonderful World” (Que mundo tão maravilhoso), de Louis Armstrong, interpretada em voz e violão pelo aluno Joel Lima, ajudou na reflexão e tornou o ambiente propício ao desabafo. Toda a atividade, foi conduzida pelos professores e psicólogos do curso, Edvan Gonçalves da Silva, Emily Souza Gaião e Juliana Gama. Na sala vizinha, a psicóloga clínica Thaís Guedes, se colocou a disposição para ouvir os alunos.

Inicialmente, os futuros psicólogos fizeram um momento de introspecção. Sentados no chão ou deitado, buscando a posição mais confortável, eles compartilharam alguns dos seus sentimentos e problemas emocionais que atualmente enfrentam, mas têm dificuldade de expressar em palavras. Para realizar a atividade, os psicólogos envolvidos na iniciativa junto com o Centro Acadêmico colocaram em prática o projeto “Deposite”, no qual os estudantes depositaram em caixas espalhadas pelo Departamento de Psicologia, batizadas de “caixa dos afetos”, mensagens relacionadas aos seus problemas emocionais.

O trabalho foi sigiloso e para realizá-lo os professores passaram uma semana recolhendo as mensagens dos alunos. Ao término, eles preservaram os nomes dos autores das frases, tendo revelado na roda de conversa apenas o resultado da experiência. A partir do conteúdo colhido nas caixas, foi aprofundado o debate em torno da saúde mental dos estudantes. Edvan Gonçalves ressaltou que a experiência foi riquíssima e possibilitou aos alunos trazer à tona problemas como estresse, ansiedade e depressão.

Aos professores foi possível identificar aspectos a serem trabalhados na UEPB. “Nosso trabalho foi no sentido de acolher e dialogar sobre a saúde dos estudantes na Universidade. Foi um trabalho mais de estudar. Nesse processo, nós procuramos debater sobre as potencialidades em saúde mental que precisamos trabalhar no dia a dia para promover o bem-estar”, destacou.

Envolvida no projeto, a professora Juliana Gama destacou que setembro foi apenas um mês de alerta sobre a necessidade de prevenir o suicídio, mas a preocupação com a temática persiste. Ela ressaltou que a UEPB e, particularmente, o Curso de Psicologia têm a missão de continuar pensando sobre a valorização da vida e as dores que afetam todos ao longo do percurso.

Para a psicóloga, o mundo é muito exigente e cria situações para favorecer doenças psíquicas e tornar as pessoas com extrema dificuldade de controlar suas dores. Ela observou que o reconhecimento de que “não somos tudo, nem temos tudo” dói muito, principalmente por meio das redes sociais. “Estamos cada vez mais desaprendendo a lidar com as faltas, com as perdas e com o não ter e como não ser. De repente, quando a gente se vê impotente diante de algo que está faltando, nos sentimos sem força. O discurso posto é de algo inalcançável e muitos desistem”, ilustrou.

Já a professora Emily Souza Gaião alertou para os efeitos das redes sociais e mostrou que muitas vezes a tecnologia passa uma imagem que não reproduz a realidade da vida das pessoas. As dores e angústias são escondidas por trás das fotos e mensagens publicadas nas mídias sociais. Estudante do 9º período e integrante do Centro Acadêmico, Sara Pereira Morais, observou que os profissionais de Psicologia estão sujeitos a sofrerem com os problemas de saúde mental. Ela destacou a necessidade dos estudantes se prepararem para encarar a realidade futura nas clínicas.

“Vivemos tempos complicados. Percebemos que está havendo uma epidemia de casos de suicídio. Por isso é importante trazer essa discussão para dentro do Departamento, para a gente se cuidar e tratar dessas questões, para poder auxiliar outras pessoas”, observou Sara, acrescentando que, inevitavelmente, os psicólogos absorvem os sentimentos e as dores dos pacientes, sendo necessário se cercar de todo o cuidado.

A coordenadora do curso, professora Laércia Maria Bertulino de Medeiros, disse que o Departamento de Psicologia tem se preocupado muito com a temática ao longo de todo o ano. Ela lembrou que o Curso de Psicologia realiza diversos projetos de extensão voltados para as doenças mentais, que abrangem desde a Escuta Psicológica até o trabalho psicoterapêutico.

Texto: Severino Lopes
Fotos: Karen Silva (Estagiária)