Pesquisa de docente da UEPB sobre uso de mamíferos selvagens na medicina repercute em mídia internacional

15 de dezembro de 2020

Uma pesquisa sobre uso de mamíferos selvagens na medicina traidicional, liderada pelo professor do Departamento de Biologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Rômulo Alves, e desenvolvida em parceria com pesquisadores vinculados ao INCT Etnobiologia, Bioprospecção e Conservação da Natureza da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), incluindo o seu coordenador, o professor Ulysses Paulino de Albuquerque, do Departamento de Botânica da instituição pernambucana, tem repercutido internacionalmente após a publicação do artigo “Uma análise global dos fatores ecológicos e evolutivos do uso de mamíferos selvagens na medicina tradicional”, na revista científica Mammal Review, periódico científico oficial da The Mammal Society, que visa a pesquisa e preservação de animais mamíferos.

Publicado originalmente em inglês, sob o título “A global analysis of ecological and evolutionary drivers of the use of wild mammals in traditional medicine”, o artigo mostra que produtos derivados de mamíferos silvestres são amplamente utilizados em remédios tradicionais, o que pode ameaçar ainda mais espécies já em perigo. Resultados mostram que 521 espécies de mamíferos são usadas como fonte de produtos para tratar 371 doenças. Viu-se na base de dados que 155 espécies de mamíferos são consideradas ameaçadas, que quer dizer vulnerável, em perigo ou criticamente ameaçada; e 46 quase ameaçadas. Os usos de animais por culturas tradicionais foram mais comuns na China, Índia e América Latina.

O estudo revelou que uma impressionante riqueza de espécies de mamíferos – 9% das 6.399 espécies conhecidas – é usada em sistemas médicos tradicionais em todo o mundo. “Vimos que espécies intimamente relacionadas são usadas para tratar doenças semelhantes”, explicou o professor Rômulo Alves. “A ampla utilização de mamíferos na medicina tradicional, incluindo espécies ameaçadas, é uma evidência da importância de se compreender tais usos no contexto da conservação de mamíferos. Os aspectos sanitários do uso de mamíferos selvagens por humanos e suas implicações para a saúde pública também são aspectos importantes a serem considerados”, alertou o pesquisador.

Em sua tese de Doutorado, o professor Rômulo Alves estudou o uso e comércio de animais para fins medicinais no Brasil. Nesta atual pesquisa, ampliou o escopo e utilizou-se da metodologia meta-análise. Ele prospecta que futuras abordagens poderiam incluir estudos sobre a transmissão de zoonoses e potenciais espécies transmissoras. A intenção é também incluir outras classes de animais além dos mamíferos, como aves e répteis.

Repercussão
De acordo com a repercussão científica, os resultados encontrados na pesquisa podem auxiliar em um futuro prognóstico precoce de doenças transmitidas por animais. Cientificamente é o evento conhecido como “spill over” de doenças virais, quando um vírus que ocorre em mamíferos passa a contagiar seres humanos, como ocorreu com o SARS-Cov2, vírus causador da pandemia de Covid-19.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 80% da população mundial depende de tratamentos derivados de animais. É reportado que animais selvagens e domésticos e seus subprodutos, como cascos, peles, ossos, penas e presas, constituem ingredientes importantes na preparação de medicamentos curativos, protetores e preventivos. Por exemplo, na Medicina Tradicional Chinesa, mais de 1500 espécies de animais foram registradas como tendo algum uso medicinal. Na Índia, cerca de 15 a 20% da medicina ayurvédica é baseada em substâncias de origem animal. No estado brasileiro da Bahia, foram registrados mais de 180 animais medicinais. Os resultados da pesquisa sugerem que a hiper exploração de animais para uso medicinal pode ser uma fonte negligenciada de ameaça para as espécies de mamíferos.

A pesquisa foi liderada pelo professor Rômulo Romeu Nóbrega Alves, do Departamento de Biologia da UEPB, em parceria com pesquisadores vinculados ao INCT Etnobiologia, Bioprospecção e Conservação da Natureza, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco. Professor Rômulo é o principal autor da pesquisa, juntamente com mais seis pesquisadores, dos quais três são graduados em Ciências Biológicas pela UEPB.

O artigo original pode ser lido neste link.

Texto: Juliana Rosas